O Sindicato das Indústrias de Calçados de Minas Gerais (Sindicalçados-MG) e o Sindicato das Indústrias de Bolsas de Minas Gerais (Sindibolsas-MG) lançaram, no sábado, dia 22 de novembro,a semana, a campanhaOrgulho de produzir calçados e bolsas.
O objetivo desse projeto é valorizar os profissionais que trabalham no setor, contribuindo para o crescimento e fortalecimento das indústrias do segmento, levando em conta que todos têm uma função importante no ciclo da produção.
Dez importantes fábricas mineiras escolheram um funcionário para representar a classe nesse projeto. São pessoas que estão há vários anos na profissão, desvendaram seus segredos e têm orgulho do que fazem.
A partir desta semana, suas fotos estarão presentes em cartazes e banners, que serão distribuídos entre as empresas associadas do Sindicalçados-MG e do Sindibolsas-MG.
Concurso de frases e eleições
As ações da campanha envolvem ainda um concurso de frase com o tema “Por que me orgulho de ser sapateiro”, com participação de todos os interessados, com premiação para o primeiro colocado.
Está também programado a eleição do Sapateiro do Ano, na qual os funcionários poderão se inscrever para participar escrevendo um pequeno depoimento sobre sua contribuição ao setor. Os vencedores nas categorias de calçados e bolsas receberão dois troféus.
Premiação de empresários e festa
Para completar, haverá premiação de empresários do ramo de quatro setores: calçados, bolsas, componentes para o segmento, brindes e materiais promocionais.
A intenção é envolver o maior número de pessoas provocando uma grande interação do setor.
A campanha
Atuando no chão de fábrica, eles dominam todas as técnicas e são o alicerce humano das empresas de calçados e bolsas, garantindo a sobrevivência de um ofício que corre o risco de extinção. Representam sua classe na campanha Orgulho de produzir sapatos e bolsas lançada pelo Sindicalçados-MG e Sindibolsas-MG com o objetivo de valorizar a profissão
Álvaro Antonio da Silva é supervisor na Gruller Calçados. Mas até conquistar esse cargo, queimou várias etapas no ofício em que começou aos 14 anos, na escola de formação de profissionais da Arezzo. Foi preparador de esteira, virador, pespontador, lixador, montador, chanfrador, passou pelo almoxarifado, expedição, departamento de compras, entre outras funções de uma fábrica de sapatos.
Apaixonado pelo ofício, fez muitos cursos técnicos de aprimoramento e sobre gestão de pessoas e se sente confortável para comandar e motivar uma equipe visando cumprir as metas de produção.
Após 30 anos no mercado, Álvaro acredita que as pessoas que gostam do que fazem, que são curiosas, observadoras e procuram se aprimorar podem crescer profissionalmente. Mais do que isto, são disputadas no segmento e podem sustentar dignamente suas famílias. “Para isto, é necessário vestir a camisa”, ressalta. Esse é o conselho que dá aos seus subordinados.
Como ele, nove outros funcionários de fábricas de sapatos e bolsas de Belo Horizonte e Região Metropolitana, escolhidos para representar as empresas onde trabalham na campanha Orgulho de produzir sapatos ebolsas, promovida pelos Sindicato das Indústrias de Calçados de Minas Gerais (Sindicalçados-MG) e Sindicato das Indústrias de Bolsas de Minas Gerais (Sindibolsas-MG), têm histórias semelhantes.
Montadora e chefe de equipe na Thomaz Rabelo, Rita de Cássia Rodrigues Martins começou na Toque Especial, como aprendiz. Dona de um espírito independente, ela saiu de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, aos 14 anos, para trabalhar em casa de família em Belo Horizonte.
Da Toque Especial foi para a Thomaz Rabelo e comemora 25 anos de carreira, sempre na área de bolsas. Tornou-se uma expert no assunto. “Meu maior prazer é ver uma bolsa ficar pronta depois de juntar pedacinho por pedacinho”, enfatiza sentindo-se privilegiada por fazer parte de um processo de criação. A empresa virou uma segunda família para Rita, e seu espírito empreendedor a leva a complementar a renda vendendo balas, pirulitos, queijos para os colegas. “Faço minha marmita, saio de casa sem hora para voltar. Para mim, não tem tempo ruim”, afirma.
Casamento perfeito - Após trabalhar em algumas fabriquetas da capital mineira, Homero Lopes resolveu entrar em um curso de pesponto de calçados no Senai, que lhe abriu novas perspectivas. Em sua trajetória, passou por algumas fábricas do segmento da cidade, empreendeu uma facção particular, esteve em Curitiba por oito anos, trabalhou na Arzon, ocupou várias funções, e, há dez anos, é modelista na Trapézio, atuando lado a lado com a estilista da fábrica. “Gosto demais do que faço, não me vejo fazendo outra coisa”, revela. Do seu início nas pequenas empresas, aos 13 anos, observa o quanto o acessório cresceu em termos de importância e demanda. “Bolsa e mulher são um casamento perfeito. Mas, além da beleza, tem que se pensar na segurança, na organização dos objetos no interior da peça, na praticidade, no acabamento. São esses detalhes que fazem com que uma mulher opte entre um modelo e outro, principalmente quando se pensa na concorrência das bolsas chinesas”, acrescenta. O sonho de Homero é ser estilista, colocar em prática tudo que aprendeu, desenvolver a criatividade, aprimorar o design das peças que tanto ama. Ele garante que vai correr atrás disto.
As bolsas também são o universo de Giselle Aparecida Brás Correia. Apesar de ter feito cursos de cabeleireira e de fotografia, encontrou seu norte quando entrou na fábrica da Rogério Lima como estagiária. Esta história já tem 10 anos. O entusiasmo do chefe, sua capacidade de criar, de inventar novos modelos, a contagiou completamente. “Rogério tem prazer de ensinar, trabalha com a gente na mesa, pede opiniões, é uma relação de igual para igual”, elogia. Além do prazer, Giselle viu na profissão condições de melhorar sua vida, comprar moto e carro... Como supervisora de equipe, ela também não deixa de por a mão na massa, o que é sempre uma satisfação. “Além do mais, a gente trabalha com excelentes matérias-primas, o que contribui para a perfeição dos modelos”, diz Giselle. Cerca de 90% das suas bolsas são da Rogério Lima. “Elas têm um toque de arte”, enfatiza.
Sapateiro - Aos 12 anos, José Resende Amaral pisou pela primeira vez em uma empresa de calçados, em Aimorés, no Vale do Rio Doce. Nunca mais saiu da área e comemora 58 anos como sapateiro. Sim, esse é o termo que ele usa para se definir profissionalmente. Montador e solador no princípio, resolveu fazer o curso de modelismo do Senai, onde lhe ensinaram o que ele chama de “pulo do gato”. “Mas aprender mesmo foi só fazendo”, confessa o modelista, que, há 20 anos, encontrou Paula Bahia, uma jovem que engatinhava no setor, e que hoje se tornou uma referência no mesmo. “Passei pelo primeiro galpão da fábrica, no bairro das Indústrias, mudamos para outro na Vila Oeste até chegar no prédio próprio no São Francisco. Paula e eu somos cúmplices”, assegura.
Resende se considera sempre insatisfeito com o trabalho, buscando o novo, o aperfeiçoamento, característica que, segundo ele, é perfeita para quem trabalha no mutante mundo da moda. É essa insatisfação que o leva a uma pesquisa constante na internet, conferindo vídeos sobre modelagens nacionais e internacionais, técnicas, coleções, tendências, detalhes, soluções. “Não largo meu Ipad nem no final de semana”, afirma. Fazer sapato, para ele, é um ritual em que as etapas não podem ser atravessadas. “Ainda é um processo muito artesanal, aqui na fábrica temos poucas máquinas. Acompanho todo o processo da produção. Modelagem é igual a um filho que você tem que acompanhar sempre”, declara.
Foi por meio de um anúncio de jornal que Nelson Soares dos Santos ingressou no reino das bolsas. Como todos os colegas, o trabalho veio cedo, aos 13 anos, numa fábrica de luvas. Seu primeiro emprego foi na Toque Especial, onde ficou por dois anos. Hoje ele é funcionário da Avec Vous, empresa especializada em nécessairese malas para viagens, atuando como cortador. São 14 anos vivendo a experiência de contribuir para o sucesso de uma coleção. “Não há nada mais compensador que isto. É sinal que conseguimos vencer os desafios”, assegura.
Metas a cumprir - No dia 2 de outubro, Jaqueline Marcelina de Assis completa 21 anos como funcionária da Luiza Barcelos. Iniciou a vida profissional passando cola em sapatos, auxiliando a encarregada em muitas tarefas. Dentro da fábrica, aprendeu a pespontar e, há dez anos, foi promovida à assistente de produção. Cumprir metas é a sua rotina atual, o que exige muita paciência e sabedoria para lidar com as pessoas. A rotina inclui também horas extras nas ocasiões em que é necessário acelerar a produção. Mãe de dois filhos, com 21 e 23 anos, que cria sozinha, Jaqueline se considera uma lutadora. “Antes era uma barra, deixar as crianças prontas, cuidar da casa, fazer a marmita. Agora, elas já estão encaminhadas, fica mais fácil”. Apesar de se considerar feliz com a vida profissional, ela confessa que já está sonhando com a aposentadoria.
Maria da Conceição Matos já se aposentou, mas continua na labuta. São 29 anos, a maioria deles como pespontadeira na fábrica de calçados e bolsas Júnia Gomes. Naná, como é conhecida por todos, sempre teve jeito para prendas domésticas: além de costureira, sabe fazer crochê e gosta de bordar. Certamente, esses talentos a ajudaram na função que ocupa hoje, que exige muito capricho, além da boa vontade para aprender e apreender as novidades. A experiência e o gosto pelo que faz, contribuem para que absorva rapidamente todas as exigências de um modelo, mesmo o mais complicado. “Quando a peça tudo fica pronta, nem acredito. Será que fui eu mesma que fiz isto?”, pergunta-se.
Olhando para trás, Naná reflete como as coisas ficaram diferentes de quando ela começou na profissão: “Os modelos eram mais simples, quase não havia cor, nem coleção. Hoje tudo está mais bonito, mas também muito mais complicado”. Mas o advento da moda fez com que ela abrisse os olhos para esse mercado. “Gosto de ver revista, de ver roupa, sapato bolsa, dou palpites até na compra de roupas para homem”, admite. O seu salário junto ao do marido ajudaram a criar a filha, formada professora e hoje funcionária pública. Ela explica as quase três décadas em uma mesma fábrica de forma simples: “Nunca fui de entrar e sair de emprego. Adaptei aqui, eles são bons patrões e me sinto recompensada com o meu trabalho”.
Faz tudo O mesmo se aplica a José Maria Pinheiro, que tem 38 anos de profissão. Das pequenas fabriquetas de sapatos, foi parar na Príncipe Verde. Ele se lembra exatamente da data em que começou no ofício: 4 de março de 1976, no início pregando tacão em salto. Na Príncipe Verde, passou por várias áreas, tornou-se uma espécie de “faz tudo”, que é sempre consultado pelos colegas. “Passei 15 anos da minha vida só fazendo escarpin. Depois, a gente começou a seguir a moda. De quatro em quatro meses tem novas modelagens e isto é ótimo, porque não fica monótono”. Várias razões o levam a permanecer na empresa por 22 anos são as muitas amizades que fez lá dentro, além da consideração do patrão, a quem considera um amigo. “Com o dinheiro da profissão criei minha família, meus dois filhos, hoje casados. Já tenho quatro netos”, conta. Apesar de aposentado, não pensa em parar de trabalhar: “Enquanto quiserem que eu fique aqui, continuo”, afirma.
Outro que conhece todos os segredos do chão de fábrica é José Maria da Silva, modelista na Arzon Bolsas. Desde o início, como auxiliar de produção, notou que tinha aptidão para o trabalho. Em pouco tempo, aprendeu a modelar, numa trajetória de 23 anos de carreira. O interesse pela área faz com que se envolva em pesquisas técnicas e sobre as tendências de moda, acompanhando todas as novidades relacionadas com seu trabalho. “Estou sempre pensando como um modelo foi feito e na melhor forma de fazê-lo”, conta. Trabalhando lado a lado com o estilo, é aquele que avisa de antemão o que é inviável. E tem liberdade de opinar sobre o que pode ser mudado ou como melhorar uma ideia. Sua expertise já rendeu convites para ministrar oficinas no Sebrae, no Maranhão e no Pará. José Maria acredita que ensinar é uma forma de aprender.
Luiza Barcelos
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